Dédalo é o arquétipo do artista universal, imagem do criador perseguido pela própria criação, construtor do labirinto, inventor das estátuas animadas, do fio de Ariadne e das asas da liberdade que fascinaram Ícaro. É o arquiteto da liberdade e o construtor da poética da cidade.
Na análise do processo filme de uma cidade-cidade de um filme, há questões constantes que se impõem. Imaginário e real encontram-se no espaço do inabitável? A cidade está metamorfoseada? Desfigurada? Irreconhecível? Seletiva? Parcial? As ruas inquietantes estabelecem a dualidade das representações urbanas? A arquitetura das cidades é um espaço de memória e de imaginação? A cidade é um lugar de passagem, de paródia, de fascinação? Acolhe, afasta ou hierarquiza? O território urbano é um espaço de encontro ou de solidão? As cidades são imaginárias, quiméricas, desejadas ou repelidas? Como é que a cidade se torna filme? Que percurso estabelece? Da reprodução à destruição? Da destruição à metamorfose? A cidade torna-se na imagem específica de um realizador, na obsessão inexorável de uma intriga ou no espaço esquemático de uma técnica de montagem? A cidade é transformada ou transforma o olhar da câmara cinematográfica? Projetam-se filmes de cidades ou cidades de um filme?
Um travelling analítico por algumas cidades de Alfred Hitchcock, Dziga Vertov, Emir Kusturica, Ettore Scola, Federico Fellini, Fernando Meirelles, Jacques Tati, Manoel de Oliveira e Wolfgang Becker.