“Cidade de Deus” (Brasil/França – 2002), “O Fiel Jardineiro” (Alemanha/Reino Unido – 2005) e “Ensaio sobre a Cegueira” (Brasil/Canadá/Japão – 2008) são três filmes do arquiteto e diretor de cinema brasileiro Fernando Meirelles. Em comum, estes três filmes originam-se a partir de adaptações de obras literárias, mas também, e especialmente, parecem revelar uma forma de conceber o espaço cinematográfico que tem origem na própria formação de arquiteto do diretor.
A partir do conceito de tectônica, explorado por Kenneth Frampton em “Studies in Tectonic Culture: The Poetics of Construction in Nineteenth and Twentieth Century Architecture” (1995), e que diz respeito à prevalência da expressão construtiva sobre a pura espacialidade ou a forma abstrata, o que caracterizaria a essência da própria arquitetura, este artigo procurará identificar na obra de Meirelles como efetiva-se a construção do espaço cinematográfico e a expressão construtiva na própria composição deste. Procurar-se-á estabelecer, através da análise da composição e das relações espaciais em algumas cenas dos filmes mencionados, evidências da existência de um discurso “arquitetônico” na obra de Meirelles, originário da sua formação de arquiteto.